Por Laura Redfern Navarro
Em Antes que o céu desabe, Maiara Gouveia nos joga questionamentos e possibilidades que podem surgir deles. Já conhecida por sua poesia, marcada pela exploração de uma linguagem que é quase como um gesto contrário à cultura neoliberal e dita “civilizada” – Gouveia coloca como provocação principal uma crítica às noções embutidas no binômio homem-natureza, dicotomia que molda certo tipo de relação com as outras formas de vida. Partindo da ideia de que, ao nomearmos o nosso mundo, estamos atribuindo uma função a ele, a autora propõe pensar nas implicações de um nome.
Afinal, chamando (por exemplo) a terra de “recurso natural”, nós a transformamos num objeto, tal como fazemos com as mulheres e com os rupos dissidentes. A reforma do pensamento que é, então, proposta por Gouveia – que dialoga com os ideais do Bem Viver e o trabalho de várias autoras ecofeministas e de mestres como Davi Kopenawa e Ailton Krenak – começa a partir do ato coletivo de repensar a linguagem. Ao longo desta bra, que abrange desde crise climática à opressão de gênero, a autora mostra a urgência em se pensar a palavra – esta, capaz de criar novos valores, novos afetos e novas maneiras de encarar o nosso mundo.
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*Laura Redfern Navarro (2000) é poeta, jornalista, fotógrafa experimental e crítica literária. Graduada pela Faculdade Cásper Líbero, pesquisa corpo e linguagem nas vicissitudes do feminino. Foi vencedora do ProAC em 2022 com o projeto "O Corpo de Laura", que consiste em um livro e uma plaquete.
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