Por Rodrigo Garcia Lopes
"Talvez não tenha escapado a Paulo Leminski, amante de dicionários, etimologias e anagramas, o fato de que seu nome e sobrenome soassem como a palavra ´pólemos´ em grego: guerra, combate, conflito. Talvez o título ´Guerra dentro da gente´ reforce essa suposição. O fato é que Leminski sempre gostou de uma boa polêmica para tonificar os músculos e as ideias. Em Curitiba ficaram famosas suas investidas contra o “daltonismo” da literatura paranaense (em referência à influência canônica de Dalton Trevisan), contra o conto ou mesmo contra Curitiba. Apesar de reconhecer os talentos da capital do Paraná, em 19 de maio de 1989 ele ainda reclamava da “medíocre pasmaceira jeca-tatu em que se converteu a vida sígnica da cidade”. Torcia o nariz para a chamada poesia social (Gullar e o Centro Popular de Cultura eram uns de seus alvos prediletos). Achava que o maior engajamento “tem que começar pela consciência da linguagem. Das linguagens”. Leminski: “Cedo me dei conta de que poesia não altera porra nenhuma do real histórico. Quem quer fazer da poesia bandeira de guerra ou tribuna, errou de profissão e escolheu o instrumento inadequado. Não que a poesia não possa brotar do político ou do social, mais explícitos. Pode. Mas que pinte no modo específico da poesia, no ser da linguagem”. Ele escrevia em 1986: “Poesia é o des-significado. O não dizer. O outro sentido. É sempre política, num sentido erótico-ecológico, porque é o NÃO aos discursos correntes e vigentes. Ela nada contra a corrente. Não precisa de conteúdos revolucionários para ser revolucionária. Já é subversão. Sub--versão. Toda essa geração de poetas que proliferam por aí (e nunca se fez tanta poesia neste País) é uma geração de subversivos. Pena que a maior parte desses subversivos só faça sub-versinhos. Tem que fazer subversões”."
______________________________________________________________________________________
Trecho de FOI TUDO MUITO SÚBITO: UM ENSAIO SOBRE PAULO LEMINSKI, de Rodrigo Garcia Lopes, disponível no site https://kotter.com.br/.../foi-tudo-muito-subito-um.../
Comments