Por Claudio Daniel
Charges escritas, do poeta e artista plástico Francisco dos Santos, é uma reunião de poemas visuais sobre a trágica situação política vivida pelo Brasil na atualidade. Os poemas utilizam diferentes recursos tipográficos – cores, fontes e corpos de letras, a espacialização das linhas e a atomização da palavra, que remetem à Poesia Concreta e outros movimentos de vanguarda. Ao mesmo tempo, no campo referencial, as composições textuais trazem elementos oriundos das charges publicadas em jornais, como a crítica político-social, a ruptura (com) e a paródia (dos) discursos do poder, a caricatura, a ironia, o sarcasmo e, sobretudo, a ênfase ou exagero (um dos sentidos da palavra francesa charge, que também significa ataque violento de uma carga de cavalaria). O exagero amplia as dimensões do ente caricaturizado, provocando o efeito do riso no leitor, que poderíamos chamar de a subversão pelo riso. O chargista consegue, pela distorção, mostrar o ridículo dos poderosos de plantão, seja os generais da ditadura de 1964, seja os capitães de meia tigela do novo ciclo autoritário. O segredo da charge, como acontece nos clássicos desenhos publicados por Millôr Fernandes e Jaguar no jornal O Pasquim, na década de 1970, está na surpresa, na quebra da lógica rotineira, que tira o leitor de sua zona de conforto e leva-o a uma reflexão sobre os absurdos que vivenciamos – e haja Jesus, Jeová ou Satanás no alto da goiabeira para darem conta de tantas cruéis sandices que abundam na pátria nossa. Francisco dos Santos “erra” – novamente – em seus poemas quase pictográficos, que com o mínimo de palavras, sílabas, letras e sinais e pontuação consegue mapear o imenso Hospício Brasil.
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