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TRAJETÓRIAS LITERÁRIAS: UM OLHAR PARA DENTRO E PARA FORA DO BRASIL

Por Dirce Waltrick do Amarante


Aurora Bernardini é figura essencial no mundo literário e cultural brasileiro, seja como professora titular da Universidade de São Paulo (USP), escritora de ficção (faz uso de um pseudônimo), tradutora (verte, particularmente, do russo e do italiano) e ensaísta. Vale destacar que a professora também colabora em jornais de circulação nacional, sendo exímia resenhista. As atividades de Bernardini caminham lado a lado, pois, quase sempre, suas traduções vêm acompanhadas de paratextos de sua autoria, e ambos são frutos de discussões que ela desenvolve em sala de aula.


Como tradutora, devemos a ela a circulação entre nós de autores clássicos e experimentais, como, por exemplo, Anton Tchekhov, Velimir Khlébnikov, Marina Tsvetáeva, Daniil Kharms, Ermano Stradelli, Luigi Pirandello, Umberto Eco (Bernardini o conheceu pessoalmente).


Bernardini não deixou de lado a literatura ameríndia, participando de pelo menos uma das grandes antologias de textos de povos originários publicados no Brasil, Makunaíma e Jurupari, organizado por Sérgio Medeiros, para a qual traduziu a versão em italiano de “A lenda de Jurupari”, de Ermanno Stradelli, estudioso da língua nheengatu e da mitologia amazônica.


Parte de seu percurso acadêmico está sintetizado em dois livros de ensaios recém-publicados: O modelo americano e outros ensaios (Madamu) e Travessias literárias (Appris).


No primeiro livro, a estudiosa revisita autores da literatura ocidental, como Dante Alighieri, James Joyce e Sócrates, e temas da literatura extraocidental, como o mito do fogo, do povo Jê. O objetivo de Bernardini é fazer conexões que, como se lê na apresentação do volume, revelem “caminhos novos ou inusitados que convergem para a construção (ou a reconstrução) do Self de cada um de nós”.


O outro volume, Travessias literárias, é uma continuação do primeiro, e nele a autora discute as obras de John Donne e Oscar Wilde, entre outros, e discorre sobre a tradução, o riso, a mito e os “fundamentos da poesia”. Atenção especial é dada à ecopoesia e ao clássico A queda do céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert.


O ensaísta argentino Alberto Manguel, em diálogo com Dante Alighieri e David Hume, define a curiosidade intelectual como o “impulso para a busca”, aquilo que “persiste, [...], mesmo quando nos rendemos a obstáculos insuperáveis, e mesmo quando fracassamos apesar da renitente coragem e das melhores intenções”. Esse impulso definiria, a meu ver, a trajetória de Bernardini, que recentemente aceitou traduzir, em um projeto coletivo, dois longos capítulos de Finnegans Wake, obra inclassificável de James Joyce, e o primeiro episódio de Ulisses, obra mais conhecida do escritor irlandês.


Os ensaios citados mereceriam, talvez, ter sido publicados num volume único e numa edição mais bem-cuidada, que fizesse jus à importância dessa grande intelectual. Porém, tenho a impressão de que ultimamente, no Brasil, temos trocado lâmpadas antigas por novas, como na história de Aladim. Deveríamos saber, contudo, que das lâmpadas novas muitas vezes não sai gênio nenhum...

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