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Movimentos e Africanidades

Adriano B. Espíndola Santos

8 de jan. de 2024

Adriano Santos reflete sobre movimentos e africanidades na literatura

No que concerne às literaturas africanas em língua portuguesa – por certo, resultado dos movimentos sociais –, sabe-se que houve um grande caminho percorrido pelos povos originários para a verdadeira emancipação, enfrentando a imposição secular da cultura ocidental dos colonizadores.


A identidade cultural dos países africanos sofreu com o descaso e, mais ainda, com a força desestabilizadora dos poderes econômicos e políticos vigentes, tantas vezes alinhados ao modelo do colonizador. Nesse cenário, surgiram os movimentos sociais da cultura africana, para a recomposição das africanidades, de suas raízes intrínsecas – abafadas –, para recontar a sua história, enfrentando a dominação.


Mesmo antes da derrocada de Salazar, o primeiro-ministro e ditador português, de 1950 a 1975, países em África lutaram, cada um à sua medida, para a sua independência – aí ocorreu a inclusão dos movimentos sociais –, com um processo profundo de democratização (1990-2010). Adotaram o modelo liberal, seguindo as constituições de países africanos, considerando os direitos humanos, e enfatizando a justiça econômica e a liberdade política.


Os movimento mais expressivos são: “guerreiros” Taghridjant do delta do rio Senegal, que recobraram os saberes locais, de uma terra arrasada, em razão da edificação da barragem de Diama; Hip-hop em Angola, ou o “rap da intervenção social”, onde o rap dispõe a emancipação cultural no exercício da política; o Korrenti di Ativiztas, que se desenvolveu em Praia, Cabo Verde, com “gangues urbanos”, caracterizado pelo ativismo social; o LGBT em Uganda, que combate a grave intolerância do governo, para conscientização – ainda um mal hodierno –; e “Djuntamon para novas relações”, que aborda os processos de democratização de Cabo Verde e da Guiné-Bissau – até 1980 exerciam uma mesma política.   


É preciso reforçar que esses movimentos guardam peculiaridades próprias, com a sua formação geopolítica, como com a atroz fragmentação, ao gosto dos colonizadores, do Reino do Congo, pré-colonial, que corresponderia, hoje, a partes da Angola, República do Congo e Gabão.


Os ditos movimentos tentam compatibilizar os interesses, para acomodar as culturas, restaurando a soberania e a identidade. Ainda que, por força das circunstâncias, conservem traços do ocidente, ponderam a sua relação, para que ocorra de maneira profícua, respeitando, sobretudo, suas raízes. Vê-se que é um processo contínuo, em movimento, para rechaçar a sombra que paira da dominação.

 

Referências

 

BUSSOTTI, Luca; MUTZENBERG, Remo. Movimentos sociais, Estado e Sociedade Civil em África. Considerações introdutórias. Disponível em: <https://journals.openedition.org/cea/1996>. Acesso em: 16 jul. 2023.

 

Folha de São Paulo. Uganda aprova lei que proíbe identificação como LGBTQIA+ no país. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/03/uganda-aprova-lei-que-proibe-identificacao-como-lgbtqia-no-pais.shtml#:~:text=O%20Parlamento%20da%20Uganda%20aprovou,de%20g%C3%AAnero%20no%20pa%C3%ADs%20africano.>. Acesso em: 17 jul. 2023.

 

Livro didático da disciplina – Literaturas Africanas em Língua Portuguesa.

 

MELLO, F. C. DE. Reflexões críticas sobre o debate em torno dos movimentos sociais na África. Revista Cantareira, n. 25, 5 fev. 2019.

 

MUTZENBERG, Remo. Conhecimento sobre ação coletiva e movimentos sociais: pontos para uma análise dos protestos sociais em África. Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Número 2 Maio/Agosto 2015.

 

NADER, Lúcia; AIDOO, Akwasi. Movimentos sociais africanos apresentam oportunidades, não ameaças, às organizações de direitos humanos. Disponível em: < https://www.opendemocracy.net/pt/movimentos-sociais-africanos-apresentam-oportunidades-nao-/>. Acesso em: 17 jul. 2023.

 

Reino do Congo. Wikipédia. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_do_Congo>. Acesso em: 16 jul. 2023.

 

SILVA, José Manuel Mussunda da. Hip hop, ferramenta de resistência dos jovens

angolanos na luta pela igualdade social: estilo rap underground. Revista África e Africanidades – Ano XII – n. 33, fev. 2020 - ISSN 1983-2354.

 

TEIXEIRA, Ricardino Jacinto Dumas. Estado e Sociedade Civil em Cabo Verde e Guiné-Bissau: Djuntamon para novas relações. Disponível em: < https://journals.openedition.org/cea/2043>. Acesso em: 16 jul. 2023.

 

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