A DESARMONIA
- jornalbanquete

- 15 de jan. de 2023
- 1 min de leitura
Por Ricardo Silvestrin

Lau Siqueira vem ao longo de vários livros trazendo uma poesia de contenção. Seus versos curtos, concentrados de sentido, exploram paradoxos. São os contrassensos da vida, à vezes tratados como opostos, às vezes como complementares, às vezes como um polo em contraste com o outro. Dessa faísca pelo atrito vinha a luz da sua poesia.
E todo cabia nesse verso contido, de poucas sílabas, como se a aceitação de que a vida se move mesmo pela convivência dos opostos deixasse a forma estável, como aquele símbolo do Tao, em que o princípio Yin é o complemento de Yang.
Contudo, neste seu novo livro, algo se desacomoda. O positivo não parece conviver mais em paz, ou quase, com o negativo. E o poema curto, talvez em função disso, se alonga. Seu verso agora já não se resolve em plena harmonia.
Um resumo desse desconforto pode ser lido em dois poemas em sequência> Mais precisamente nos finais deles: “viver é bom/ mas às vezes/ falha”; “o fim é o ponto de partida/ cada dia estancado na ida/ na volta não haverá saída/ enfim é um erro esta vida.”
A fome, a miséria, relato de um militante morto e arrastado pelas ruas, um tempo insano, um corpo em crise, tudo se soma e pesa, deformando esse círculo do Tao, formando ângulos, furando o balão, trazendo o vazio, a desesperança, a finitude. Uma poesia em desarmonia.
Essa é a novidade se compararmos o atual com os livros anteriores de Lau Siqueira. E isso é só uma prova de que tanto o poeta como a sua poesia, seguem vivos e sensíveis a seu tempo.





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