Por Ricardo Silvestrin
Lau Siqueira vem ao longo de vários livros trazendo uma poesia de contenção. Seus versos curtos, concentrados de sentido, exploram paradoxos. São os contrassensos da vida, à vezes tratados como opostos, às vezes como complementares, às vezes como um polo em contraste com o outro. Dessa faísca pelo atrito vinha a luz da sua poesia.
E todo cabia nesse verso contido, de poucas sílabas, como se a aceitação de que a vida se move mesmo pela convivência dos opostos deixasse a forma estável, como aquele símbolo do Tao, em que o princípio Yin é o complemento de Yang.
Contudo, neste seu novo livro, algo se desacomoda. O positivo não parece conviver mais em paz, ou quase, com o negativo. E o poema curto, talvez em função disso, se alonga. Seu verso agora já não se resolve em plena harmonia.
Um resumo desse desconforto pode ser lido em dois poemas em sequência> Mais precisamente nos finais deles: “viver é bom/ mas às vezes/ falha”; “o fim é o ponto de partida/ cada dia estancado na ida/ na volta não haverá saída/ enfim é um erro esta vida.”
A fome, a miséria, relato de um militante morto e arrastado pelas ruas, um tempo insano, um corpo em crise, tudo se soma e pesa, deformando esse círculo do Tao, formando ângulos, furando o balão, trazendo o vazio, a desesperança, a finitude. Uma poesia em desarmonia.
Essa é a novidade se compararmos o atual com os livros anteriores de Lau Siqueira. E isso é só uma prova de que tanto o poeta como a sua poesia, seguem vivos e sensíveis a seu tempo.
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