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Aziza, nova safra poética de Fátima Pinheiro

  • Foto do escritor: jornalbanquete
    jornalbanquete
  • 9 de nov.
  • 2 min de leitura

Por Lucíola Macêdo



Em Aziza novas constelações eclodem das oscilações prolongadas entre sons e sentidos, deslizando entre o onírico e o hiper-real, entre a delicadeza e a volúpia, entre o fluido e o pontiagudo. Torrente. Intensidade diferente e próxima à lâmina d’água em sim, é, o livro anterior. Fátima Pinheiro escreve com a zona febril da voz porque arder na linguagem é também acolher a morte, e trazê-la para perto vem junto com a fina observação dos objetos mesclados aos estados d’alma e corpo, fazendo-se palavra desde a sua gênese, envoltos na voragem das coisas feitas de sons, deflagrando sabores nas minúcias acústicas que as vogais sugam: o cheiro da fruta me conduz à fruta/ a cor se abre como mácula. Leio Aziza como um cântico de amor à língua, essa que desliza numa zona crispada, amor apaixonado, amor sem solução, amor que exige nada menos que levar a palavra ao seu limite/ de tal forma que ela se sinta usada/ que nem pedaço de pano que se molha, pano úmido sobre a tez, o mais superficial e o mais fundo, memória d’água e margem fresca, a equilibrar a África que ressoa nos pulmões. Ode sagrada, profana, carnal, brado e pranto, as palavras se embebem de corpo, banhando a língua em louvores à África. Onde? Mãe, mulher parida, mutumba, fundura, deserto, evaporada. Talho, página, cicatriz: nenhuma palavra, não há nenhuma/ a África desbota a razão. O corpo-África é sítio geográfico e não-geográfico, lugar e deslocalização, címbalos de vozes em línguas diversas, vegetal, animal, mineral e simultaneamente, o vazio deixado por alguém que passa. Réquiem entoado em silêncio, por instantes à a duas vozes, luto em fúria sob árvores dobradas. Qual é a medida do luto? Ver o rinoceronte/ cultivar flores em seus cascos/ encontrar o teu rosto frente ao meu. Duas e uma e várias e múltiplas vozes a indagar: -— o que é a língua? De onde nascem as palavras? Vazias agudas e falhas, suspensas, incriadas... shssssssshssss...............Leia Aziza Moyo, e você verá como é arriscar onde não há nada/ dali cravar uma pequena palmeira/ e ver se desprender... leiam Aziza Moyo!


 
 
 

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