por Pe. Júlio Lancellotti
O livro do Marcelo Brettas, mais uma vez, reforça o princípio que tem norteado nossas ações com a população em situação de rua: o importante é “conviver”. Conviver para conhecer, amar, defender, proteger e estar unido na luta “com” e não “por”. A convivência é escuta, não questionário; é memória viva e partilhada. Conviver é construção na diversidade de estilos e maneira de ser. Conviver é conflito, busca, encontro e desencontro. Conviver não é fácil, mas é fundamental para humanizar a vida. Conviver sem dogmatizar, determinar. Aprendizagem contínua que exige humildade, autenticidade e verdade. Na convivência se desvela a fragilidade e a relação de poder é diluída e fluída. Cada história, cada estilo vela e revela a convivência que faz aprender e ensinar. Convivência é, também, transformação. A transformação do Marcelo que de jornalista profissional tornou-se mais humano, sensível e próximo. Que a leitura de “Rua qualquer, sem número” nos ajude a superar toda barreira, separação e divisão e nos faça conviver e partilhar o pão. Um menino em situação de rua, uma vez, me disse: “A rua é um lugar cheio de portas e todas estão fechadas.” Que este livro nos ajude a abrir portas para conviver, aprender e sermos mais humanizados! A história de cada um, ouvida e acolhida, é transformação de vida.
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*Pe. Júlio Lancellotti é uma das maiores referências no acolhimento a moradores em situação de rua no Brasil. À frente da Pastoral do Povo da Rua mantém um forte combate à aporofobia e de apoio, com abrigo, alimentação e vestuário, aos mais necessitados. É um dos fundadores da Pastoral das Crianças e um dos formuladores do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Pedagogo e Doutor Honoris Causa, acumula prêmios por sua atuação em defesa dos direitos humanos. Em 2022 recebeu o prêmio Juca Pato de intelectual do ano.
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