Por Celso Vegro
Responsável pelo equilíbrio, o labirinto é uma estrutura na forma de caracol localizada no ouvido interno. Ademais, em nenhum outro lugar se criam mais labirintos que no pensamento humano. Em um ou outro labirinto é na cabeça que junta e acontece o vórtice fatal.
Ziul Serip em seu Cabeça-labirinto produz um quebra-cabeças no mais completo desequilíbrio entre palavras-valise, timeses, quebra-línguas e constantes ressignificações de termos e pensamentos.
Num sem fôlego contínuo são encadeadas convicções de quem assume seu lugar de exímio poeta, denunciando violências perpetradas pelo sistema desumanizado que se firmou no Brasil.
Sim, é possível encontrar rimas no volume, porém das nada fáceis: “dobras elaboradas de dromedário”, é bom exemplo. Assim, como uma elaborada arquitetura de estrofes produz imagens substantivas para o pêndulo dos adjetivos.
Não contar com equilíbrio é pouco para os objetivos de Ziul. Busca, em verdade, estabelecer a perda da firmeza do próprio chão, conduzindo o leitor a um despencar por abismos em que o percurso da queda é amparado por um colchão de palavras.
Entremeando o fio da meada surgem cenas de explicita pornografia, desafiando o leitor na jornada de se reequilibrar após cada golpe. Cabeça- labirinto não se consegue nem amar ardentemente nem odiar visceralmente, pois o autor nos conduz a um fascinante desconforto em cada verso desarmônico.
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Celso Luis Rodrigues Vegro é natural da Cidade de São Paulo, formado em Engenharia Agronômica (ESALQ/USP) e Mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura (CPDA/URRFJ). Atua como pesquisador científico na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Ex-participante do Laboratório de Criação Poética e de inúmeros cursos oferecidos pela Casa das Rosas.
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