Por Dioniso Bento
Escrito em primeira pessoa, Egonia – 9 mm de Prosa é quase inteiramente desprovido de ações exteriores. É um romance interior composto de pensamentos e narrativas psicológicas, no qual o subtexto das entrelinhas auxilia o leitor a montar seu quebra-cabeça narrativo. O pintor Paul Klee disse: “A arte não reproduz o visível; ela torna visível.” Ora, os pensamentos são invisíveis. A concretude de seres, objetos e narrativas, não. Por isso creio que a ação interiorizada seja mais relevante do que a previsível mecânica exterior de corpos desenhando as narrativas que já são visíveis a todos e, portanto, não constituem o melhor objeto para a arte. A arte é o último refúgio à plenitude da condição humana diante da máquina global, que destroça as individualidades e os regionalismos na sede de uma inconsciência robótica, conveniente apenas para os poderosos. Para o Capital, tudo o que é invisível deve continuar invisível. Nesse sentido, a concepção de arte de Paul Klee, reiterada nas páginas deste livro, coloca-se em rota de colisão com o nosso mundo material: se todos enxergassem o mundo invisível da criação artística, o mundo visível, tal como o conhecemos hoje, deixaria de existir. Não haveria mais status quo. Por isso a verdadeira arte é sempre sacrílega, subversiva e revolucionária. Assim como Egonia – 9 mm de Prosa”.
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