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O imaginário infantil de Duda Machado

  • Foto do escritor: jornalbanquete
    jornalbanquete
  • 9 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de nov.

Por Mário Alex Rosa

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Depois de 20 anos, o poeta Duda Machado chega ao seu terceiro livro de poemas infantis: – Foi! – Não foi! (2024), com ilustrações da cantora Adriana Calcanhotto. Mas antes do infantil saiu em março do ano passado, pela Círculo de Poemas, a reunião de seus quatro livros de poemas adultos: Zil (1977), Um outro (1989), Margem de uma onda (1997) e Adivinhação da leveza (2011). Além desses livros, publicou dois infantis: Histórias com poesia, alguns bichos & Cia (1997) e Tudo tem a sua história (2005). Por essas datas, pode-se constatar o tempo de intervalo entre um livro e outro.


O poeta não tem a ânsia e a pressa do que se vê hoje, por exemplo, no mercado editorial entre muitos autores. No entanto, mais que intervalo, pode ser vista não só a trajetória do poeta livro a livro, como também uma coerência nos seus procedimentos de criação na construção dos seus versos, principalmente a partir da sua segunda obra de poesia adulta, quando se distancia de algum rumor da geração 1970, ou mesmo do concretismo. Duda Machado seguiu um caminho de uma poesia que tem como um dos seus procedimentos a construção de uma sintaxe mais elaborada, sobretudo nos dois últimos livros. Mas aqui nos ocuparemos de sua criativa poesia infantil.


Os bichos voltam a povoar o imaginário criativo do poeta. No primeiro livro, estava lá a simpática “A galinha cor-de-rosa”, metida a chique, ou o divertido macaco maluquinho, em “O macaco que queria voar”. Já no segundo livro, o sonho ou o pesadelo da onça depois do jantar: “O pesadelo da onça”. Afora o universo da bicharada, há um dos poemas mais belos do livro, o encantador “Mãe, o que é isso?”. Duda Machado vai do humor lúdico às perguntas sobre a vida, coisas que agradam crianças e adultos. E é assim que os bichos continuam fora do zoológico para o poeta brincar no seu – Foi! – Não foi!.


Com graça e muita imaginação, os bichos-poemas foram parar nas páginas coloridas e alegres da cantora Adriana Calcanhotto, ilustradora do livro, que, com traços impecáveis e simpáticos, deu aos poemas um diálogo tão imaginário quanto o do poeta. Veja, por exemplo, o elefantinho seguindo a estrada a fora. Que graça! A delicadeza do peixe-boi e do hipopótomo vendo seu reflexo no rio. A esticada do goleiro macaco-prego ou a gargalhada do coelhinho sapeca. Ilustrações não precisam necessariamente serem fiéis ao texto e nem muito distantes, mas é preciso procurar uma harmonia sem perder a identidade do ilustrador em prol do texto. A cantora soltou as mãos. O resultado é de um traço delicado, bonito e leve de se ver e tocar.


O título do livro é um verso de um dos poemas mais conhecidos de Manuel Bandeira: “Os sapos”, de Carnaval (1919). Ao trazer essa referência, Duda Machado não só homenageia Bandeira, mas também retoma, de certo modo, as questões polêmicas sobre a forma, as rimas, tão criticadas nesse poema provocativo que não deixa de ter suas rimas, claro, como certa sátira à poesia parnasiana.

 

Em outra chave, poderia querer enfatizar que a poesia atual parece não valorizar a métrica, as rimas ricas, rimas toantes etc. Os vinte poemas do novo livro, na sua maioria, são formados por quartetos, com rimas intercaladas e métrica constante. No entanto, independentemente desse cuidado apurado na construção dos versos, o que se quer ver, pelo menos, é o que se observa entre a criançada; é a história de cada bicho com suas travessuras. Se a brincadeira do macaco é sabida, mais sábio é o cágado que sabe inventar o seu próprio horário (“Quando cágado foi rápido”). E, se quer ver uma partida de futebol diferenciada, arrisque narrar em voz alta “Um time com futuro”. E que beleza visual num poema que começa assim: “Quando a sombra do gato se espreguiça” (“As sombras do gato”). Ou a sensatez do macaco ao imitar seu próprio reflexo (“Imitação do reflexo”). Se quiser cantar, pode começar com a “Vida boa é do peixe-boi”. E, por falar em rima, não poderia deixar de mencionar um dos melhores poemas do livro, “O coelho e a intriga da rima”.

 

Se ficou alguma dúvida dessa resenha de – Foi! – Não foi!, podem esquecê-la, mas tenham a certeza de que é, sem dúvida, um belo livro para adquirir e se divertir com o que há de melhor na poesia infantil brasileira.

 

 
 
 

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2022 por Paola Schroeder, Claudio Daniel, Rita Coitinho e André Dick

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